O humor no rock brasileiro 1

por Bruno Silva

Li outro dia uma entrevista com o Kid Vinil e nela ele falava que faltava humor no rock brasileiro atual. Não sei se concordo se falta, mas, com certeza, uma das coisas mais marcantes no rock brasileiro sempre foi o humor, escrachado ou não. Escreverei alguns posts contando a saga das risadas no Rock’n’Roll nacional.

Viajemos lá pro inicio, nada de Jovem Guarda e seu “Grease-wannabe”, rock brasileiro de verdade. Tudo começa na Tropicália, 1968. Mutantes. São aqueles da foto: o cara vestido de macaco, a moça vestida de lençol e o rapaz de cabelinho channel. Os pioneiros do rock nacional chegaram com todo aquele povo legal da Bahia que hoje viraram ministro, gênios alternativos e falastrões de primeira categoria. Considero todo o movimento, de certa forma bem humorado, mas esta banda foi que marcou realmente, talvez por sua própria jovialidade e alegria intrínseca. Ou eram só as drogas mesmo. De qualquer forma, Os Mutantes, para mim, foi a primeira banda de rock brasileiro e com ele veio junto o humor característico.

Quem aqui já ouviu a banda sabe do que falo. Como esquecer da hilária “Canção pra Inglês Ver” e da totalmente sem noção “Batmacumba“? São vozes anasaladas, barulhos estranhos com a boca, sotaque caipira forçado além de muitos outros artifícios humorísticos muito eficientes. Além, é claro, das letras. Por exemplo:

Jardim Elétrico

No jardim elétrico!!!
No jardim elétrico!!!
No jardim
Eu me ligo
Em você
Planto cores
Mordo a fruta
Levo choques

No jardim
Eu me ligo
Em você
No jardim elétrico!!!
No jardim elétrico!!!

Enfim, o fato é que eles começaram a veia do humorismo roqueiro.

Outro dos primórdios que não posso deixar de citar é o karma de toda apresentação musical no nosso país. Aquele que todo mundo pede pra tocar. Então, vamos lá. Toca Raul!

Senhor Raul Seixas sabia causar risadas. O roqueiro da Bahia não fazia só comédia musical, abordava assuntos de uma forma bem séria e profunda também. Mas ele teve a manha de fazer uma das vocalizações mais escrotas da história (Qué qué quéeee cum qué cum qué qué quéeeeee em Al Campone) e muitas outras escrotidões cômicas. Tudo começou em 68, com seu primeiro álbum, ainda como Raulzito e os Panteras. Foi um total fracasso. Só conseguiu atingir o sucesso em 73 com Krig-Ha, Bandolo!. Mas quem diria que isso:

evoluiria para

…

Bom, ainda bem! Sem esse disco estaríamos sem a já citada Al Capone e a prima da Batmacumba, Mosca na Sopa. Muitos outros clássicos da infâmia apareceram nos discos seguintes, Como Vovó já Dizia, Rock das Aranha* e por aí vai…

Bom, agora a gente se vê nos tenebrosos anos 80! muahahaha

*Recomendo clickar no link, tem o Raul comentando a censura da música além de uma dedicatória, com muito humor, claro.